Recuando um pouco (nem tão pouco assim), chegamos, então, ao ano de 1914, quando quase tudo em Santa Catarina era puro mato e que só de quando em quando era possível encontrar uma comunidade bem estruturada. Um tempo, porém, em que nosso chão era disputado palmo a palmo, aqui e acolá, por conta da riqueza subterrânea ou, em igual tanto, à flor da terra. Tempos, também, das muitas crenças e credos, algumas, é claro, com notado exagero.
E, por conta dessas exaltadas aclamações de fé, levados principalmente por saber existir na região do Contestado - no Alto Irani - o famoso monge João Maria, fomos ludibriados sorrateiramente por outro pregador, um falso monge que não passava de um “Santo do pau oco”.
E, do que estava acontecendo, a “Folha do Sul” de Laguna estava a par, não se furtando em noticiar com boa minudência o que se passava no sul catarinense, mais propriamente em Gravatal, naquele tempo chamado Gravatá, ainda distrito de Braço do Norte.
Lá – reportou o mais lido jornal sulino – um estranho cidadão, com vestes e características peregrinas, acompanhando-se de duas virgens, às quais chamava de Maria, se apresentou na casa de João Custódio, boa parada onde dizia pretender rezar um “Terço” e que, para isso precisava de boa plateia. Foi o que não lhe faltou.
Em pouco tempo a casa de João Custódio estava apinhada e, satisfeito com o bom público o tal monge deu-se a principiar a reza, culto de fé que levou boa parte dos que ali estavam a reverentes gestos de genuflexões, sequenciadas de um breve Beija-Mão no falso pregador. Ato contínuo pediu o charlatão que os homens depusessem suas armas – grandes facões – que traziam em suas cinturas, no que obedeceram sem a mínima contestação.
Em seguida veio um pedido de um pouco d´água e um pano encarnado. Aquele, dizia ser o sangue de Jesus ao ser levado à cruz, e este, a toalha que, ficando avermelhada, se parecia com o tecido que enxugara as feridas do Senhor.
De posse do copo e do pano, prontificou-se o forasteiro a passar o tecido úmido na testa dos que quisessem obter a salvação eterna.
Passado aquele momento, veio, então, o golpe: a exigência do pagamento de pomposos duzentos réis de cada um dos que receberam a tal “benção”, obrigação que logo foi repelida por um dos presentes, personagem que, sem perder tempo, empunhando-se de um bem trançado chicote do tipo Rabo de Tatú, levantou a saia do monge e aplicou uma boa surra.
Tentando sair em disparada, o tal sujeito foi agarrado e, para não apanhar mais confessou tudo, dizendo que fizera aquilo para conseguir dinheiro para ir até São Paulo, sua cidade. Tratava-se, então, de um desertor do Regimento Paranaense, soldado que resolvera abandonar seu grupo quando estava em trânsito, escalado para prestar serviços em Timbó.
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