sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

E o Brasil conheceu Zenon


Não como eu o conheci, é verdade. 
O Zenon lá de perto da minha casa, em Tubarão, era outro. 
Nada do Zenon avaiano, corintiano, bugrino ou atleticano. Era só Zenon, o magrelinho elétrico filho do "seu Noé" da farmácia, antigo morador da rua Santos Dumont, defronte ao campo do Grêmio Cidade Azul, paralela à minha (a Rui Barbosa), conhecida como  rua do campo do Hercílio. 

Naquele tempo, o danadinho já sabia tudo de bola. 
Rápido como um raio e driblador como poucos, não escolhia nem se escondia dos adversários e, muito menos, companheiros de equipe. Levava seu time nas costas e invariavelmente deixava o adversário na estrada. 

Antes de começar as peladas, dava-se ao luxo de propor:
Vocês escolhem os melhores, que eu fico com o resto!  E não é que com o tal "resto"
 ele dava conta do recado?!

Quando menino, fora do circuito catarinense, ele pouco se ligava em futebol. 
Por aqui (SC), sempre torcia pelo time onde seu irmão jogasse, o ponta direita Lado, que jogou no Hercílio e Ferroviário. Significa isto que o time de Zenon era, Lado F.C., do mano, e. Ponto final.

Desde cedo, para ele, como se observa, a família vinha em primeiro lugar. 
Gostava muito de jogar golzinho pequeno, que no nosso tempo era chamado de travinha pequena, sempre três contra três e, quando possível, brincar de disputa de pênalti no campo do Grêmio Desportivo Cidade Azul. 

Essa competição, na verdade, era de tiro direto de fora da área grande, com dois goleiros do mesmo time e dois chutadores do adversário. Eram seis chutes para cada time. Aí o Zenon já se revelava mestre em cobrança de faltas. 

O companheiro do atacante chutador ficava fora da área pequena, esperando a rebatida (sobra) dos goleiros ou uma bola na trave. A sobrar, só um goleiro podia sair da área pequena e dar combate aos dois atacantes que ficavam à vontade, até concluir o lance em linha de fundo, ou gol. A função do goleiro-combatente era tirar a bola do campo de jogo ou atrasá-la para o seu goleiro, companheiro que estava na área pequena. 

Do primeiro costume de trave curta, Zenon herdou os dribles. Quanto aos lançamentos, não sei onde aprendeu, pois antes de se profissionalizar jamais o vi fazer isso, até porque em campos tão pequenos, de travinha, tal façanha se mostrava inviável.  

Outra coisa peculiar do craque tubaronense era a de baixa a cabeça e sair fazendo fila, driblando todo mundo, sempre tentando entrar com bola e tudo. Fominha de primeira, quando enveredava, dificilmente passava uma bola para o companheiro.

A experiência, porém, poliu o garoto fominha de cara abaixada. Aprimorou-lhe a técnica.
Assim, Zenon virou craque e aquele garoto que saiu dos acirrados clássicos de rua: Zona Sul (a nossa - Rui Barbosa) x Zona Norte (a dele - Santos Dumont) e ganhou o mundo. 

Chegou, então, à Seleção Brasileira. 

Na várzea, dos primeiros tempos de amador, Zenon jogou pelo Palmeirinhas de Congonhas (zona rural de Tubarão). Daí, avançou vertiginosamente rumo ao sucesso ganhando fama nacional e internacional. Profissionalizou-se no Hercílio Luz,, depois foi para o Avaí, Guarani de Campinas, Corinthians, Portuguesa de Desportos e Atlético Mineiro. Fora do Brasil jogou na Arábia Saudita.
  

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