No rol dos casos e causos que ocorreram em Florianópolis, um tem merecido destaque ao longo dos anos: o dia em que um árbitro de futebol resolveu expulsar os 22 jogadores que participavam de uma partida, no caso, o mais um acirrado clássico da capital, Avaí x Figueirense.
Tudo aconteceu em 1971, no dia 31 de março, quando no Brasil se comemorava mais um aniversário da Revolução; uma terça-feira de feriado, com portões abertos no Adolfo Konder, o Campo da Liga. Dirigindo a partida, estava o experiente Gilberto Nahas, sargento da Marinha do Brasil e árbitro da Federação Catarinense de Futebol.
Do jogo, dos 30 minutos em diante, para não fugir à regra, tomou características de clássico, com jogadas mais disputadas e violentas. E assim foi até o final do primeiro tempo. Na ida para os vestiários, como de hábito, não faltaram bate-bocas entre jogadores, e os conhecidos “vou te pegar!”.
E não deu outra. Começado o segundo tempo, ainda antes dos 10 minutos, Deo-dato, do Avaí, acertou Cláudio, que rolou no gramado, acusando ter sido atingido deslealmente na altura da barriga. Foi o suficiente para o clima esquentar.
Daí para frente, armou-se um sururu e o Adolfo Konder virou, então, um verdadeiro campo de batalha. Por conta disso, brigaram os 22 jogadores, além de reservas e outros auxiliares das duas agremiações; situação que fugiu do controle do árbitro que, à distância, porém dentro do campo, se ateve a presenciar o que estava ocorrendo.
Depois de mais de 10 minutos de engalfinhamentos, veio, então, o veredicto de Nahas: estão todos expulsos e o jogo está terminado! – Disse com altivez. No mesmo ins-tante, levantava o cartão vermelho e rodava os braços, como um laçador, querendo mostrar que o cartão valia para todos os atletas.
De imediato, lá de cima, da tribuna – que também estava lotada de militares; porém, veio uma ordem expressa de um de seus superiores (oficial da marinha), pedindo que não estragasse a festa e reconsiderasse a situação reiniciando a partida. Todavia, impávido e até sujeito a sanções por insubordinação hierárquica, o corajoso Gilberto não recuou em sua decisão. Ratificou as expulsões e o fim antecipado do jogo.
Criou-se aí, porém, mais uma situação atípica e desconfortável: como os dois times da Capital iriam disputar a próxima partida pelo Estadual, se todos haviam sido expulsos, e a regra não permite que atletas em tal situação participem do jogo seguinte?
E veio, então, o milagre: Harry Egon Kruger, advogado experiente em causas des-portivas conseguiu excluir a pena. Argumentou e convenceu de que o árbitro do jogo deve-ria expulsar os atletas mostrando o cartão individualmente. Assim, todos foram absolvidos.
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