De Anitas a Veras, a mulher catarinense é uma marca importante no tempo de nossa história. E, mesmo que suas conquistas tenham surgido sempre a contragosto de renitentes machões, personagens felizmente já em extinção.
Mais e mais elas mostram que é possível transpor barreiras, quebrar paradigmas e, principalmente, fazer valer suas idéias.
A que preço? Muito caro, certamente. Tanto quanto a humilhação à qual nenhum homem, por mais compreensivo e atualizado que seja, se submeteria. Desde cedo, tudo tem sido bastante cobrado de nossas beldades femininas, indo essas reprimendas, da postura ao vestuário. O conceito básico da época, na ótica desses conservadores, era de que lugar de mulher é em casa.
Um tempo em que nada escapava aos severos olhos fiscalizadores de uma sociedade invariavelmente machista e preconceituosa, onde só o homem mandava e não abria o menor espaço para que a mulher tivesse, pelo menos, o direito de mostrar o que pretendia ou sonhava um dia ser.
Tanto é verdade, que em 1928, um tempo em que na França a mulher cortar o cabelo ou usar batom em público era motivo de divórcio, os jornais da ilha já estampavam com destaque, pesadas críticas aos maiôs de franjas e babados, uma moda que, escandalosamente, deixava à mostra a parte superior das pernas das moças.
Quando muito, naquele tempo, só as canelas podiam aparecer em público, sempre semi-cobertas por longas e comportadas saias. É bom saber que a moda de “veranear” nas praias só virou costume por aqui depois de 1930.
Bem antes, em 1906, com as mulheres ainda vivendo o freqüente uso dos espartilhos, desconfortáveis modeladores da época; os que ditavam a moda na sociedade ilhoa comunicavam em alto e bom tom pelo conhecido jornal da Capital, Correio do Povo: “Moça direita não senta de pernas cruzadas. É pose de homem!”
E não precisamos ir tão longe para ter exemplos semelhantes. Em 1969, no Instituto Estadual de Educação, à época o maior educandário público de Florianópolis e de Santa catarina, travou-se uma grande discussão entre alunos, professores e diretores para derrubar a lei que não permitia às alunas o uso da calça comprida. Até ali, só de saia. A chegada da moda da calça jeans para moças, porém, venceu o ferrenho embate.
Nada, todavia, tirou das mulheres a beleza, a ousadia e, mais que isso, sua competência, quase sempre bloqueada por uma submissão imposta por costumes estritamente paternalistas.
Assim, ao pé da letra, vinham as respostas: Em 1922, a plástica feminina se destaca com a realização em Florianópolis do primeiro concurso para escolher a nossa candidata a Miss Brasil e a vencedora é Carmem Luz Collaço, com expressiva votação pelos jornais.
Das profissões, no mesmo ano, uma mulher ocupa pela primeira vez uma função nos correios, enquanto, em 1930, algumas lojas da cidade, especializadas em artigos femininos, dão emprego a moças que querem ser manequim vivo.
Oito anos adiante, as mulheres ensaiam seu ingresso nos assuntos políticos. Dia 20 de agosto de 1930 a imprensa divulga que Durval Melchiades de Sousa apresenta no Congresso Estadual (Assembléia Legislativa) o Projeto de Lei n.6 que autoriza o direito da mulher ao voto em eleições gerais.
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